13.2.06

O senhor Pinto

Já passaram oito anos. Na primeira reunião pública da então nova Câmara de Aveiro, Alberto Souto ia tirando apontamentos enquanto ouvia atentamente um munícipe, de papel na mão, a falar no período antes da ordem do dia. O antigo presidente só começou a achar aquilo algo estranho quando as recomendações que lhe eram feitas para o novo mandato chegaram ao projecto de um aeroporto!
Ninguém avisara o recém empossado edil que aquela intervenção não era para levar assim tão a sério. Foi como uma praxe de caloiro.
A personagem, afinal, já era conhecida. Da minha parte, recordo-me dele no mandato em que o professor Celso Santos assumiu a presidência mas garantem-me que já era presença assíduo no tempo de Girão Pereira.
Os presidentes passam e o senhor Pinto continua. Ainda hoje, não perde uma reunião pública. E continua a levar a lista de recomendações, uma vezes mirabolantes outras mais sensatas.
Era, afinal, o pretexto das suas longas intervenções pois no fim aproveitava sempre para reclamar uma casa nova.
Mais precavido, Élio Maia pouco depois de tomar posse como presidente da Câmara lá recebeu o senhor Pinto que, de facto, não voltou a falar do lar que tanto ansiava.
Mas nem por isso deixou de marcar presença nas reuniões públicas onde, não raramente, se deixa entusiasmar ao ponto de ser mal educado e passar todas as marcas, mesmo com o desconto que é necessário dar a casos destes.
No anterior mandato, o vereador Domingos Cerqueira, que um dia ameaçou com a polícia para o tirar da Câmara, era o seu ódio de estimação. Ultimamente tem desancado na oposição ao ponto de até a direita sentir alguma pena e sair em socorro dos vereadores socialistas.
O senhor Pinto, que diz ter sido militar em África, espião e diplomata (daí, talvez, a estranha fobia das perseguições que denuncia de quando em quando), irrita profundamente mas também faz disparar gargalhadas quando fala das suas paixões por mulheres esbeltas de perna alta, insurgindo-se contra os preconceitos de que quem condena galanteios e piropos corteses.

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